sexta-feira, 27 de abril de 2012

A tanga na manga

Tenho profunda pena das pessoas que sofrem. Não me refiro às pessoas que sofrem eventualmente. A compaixão que tenho é das pessoas que sofrem sempre, das pessoas desiludidas, dos que não têm mais esperança, daqueles para quem a vida não sorri nunca. Em suma, tenho pena das pessoas que todas as manhãs acordam para um pesadelo. Elas têm certeza de que, ao despertar pela manhã, serão mais uma vez assaltadas pela adversidade dos seus dias vazios e insossos. Há pessoas até que têm tanto terror de acordar pela manhã e com isso se defrontarem com seu sofrimento sem solução, que, quando pela bexiga são acordadas na madrugada, sentem alegria por terem ainda duas ou três horas para dormir e falta ainda esse tempo para não toparem com o pavor de acordar pela manhã e terem de bater novamente contra os rochedos duros da desilusão. São milhões de pessoas cuja vida não te maior solução, seja pelos salários miseráveis que recebem, seja pelas encrencas familiares que vivem e que as colocam em um beco sem saída, seja por outros tantos motivos que tornam a vida infértil, triste, desenganadora, irreversivelmente maldita. Tenho pena profunda das pessoas desvalidas, dos que não têm e nunca mais terão horizontes em suas vidas. Não pode haver desgraça maior do que ter de acordar-se pela manhã e manter a certeza de que a vida continuará inútil, fútil, amassante e desesperadora. Essas multidões de pessoas tontas, sem direção, sem alegrias, sem nada ou ninguém que possa emprestar um sentido digno para suas vidas, essas pessoas me causam comiseração. São farrapos humanos que já se acostumaram com o infortúnio, vivem vegetativamente, são pessoas absolutamente secundárias no cenário dos atores da vida que, se não têm sucesso na existência, pelo menos lutam pelo êxito, agasalham-se na esperança de dias melhores. Pobres árvores secas da genealogia humana, ninguém lhes dá nem presta atenção, são personagens desintegrados do tecido social, vivem à margem da civilização e pertencem ao que se pode chamar de monturo da vida sensitiva da cidade. Elas já se acostumaram tanto à infelicidade, que não tem mais forças sequer para soluçar. Elas vivem à espera da morte sem coragem mínima de se suicidar. Não posso desconhecer a sorte das pessoas e por não desconhecê-la é que minha vida quase também não tem possibilidade de ser conscienciosamente exitosa em face de tamanha iniquidade.

domingo, 1 de abril de 2012

01:35h am

''A gente pode morar numa casa mais ou menos, numa rua mais ou menos, numa cidade mais ou menos, e até ter um governo mais ou menos. A gente pode dormir numa cama mais ou menos, comer um feijão mais ou menos, ter um transporte mais ou menos, e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro. A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos.O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum. é amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos, namorar mais ou menos, ter fé mais ou menos, e acreditar mais ou menos. Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos.''(Chico Xavier)

11 de setembro de 2001


''Na vida a gente tem que entender que um nasce pra sofrer enquanto o outro ri.''